"Vivo da floresta, protejo ela de todo o jeito, por isso vivo com a bala na cabeça a qualquer hora, porque vou para cima, eu denuncio. Quando vejo uma árvore em cima do caminhão indo para uma serraria me dá uma dor. É como o cortejo fúnebre levando o ente mais querido que você tem, porque isso é vida para mim que vivo na floresta e para vocês também que vivem nos centros urbanos."

Zé Claudio, assassinado em maio de 2011.



segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Resgatando valores

Recebi este texto por e-mail há alguns meses, de uma amiga, que comentou "Sei que você vai adorar este texto". Ela estava certa. Para quem acha que os erros foram cometidos somente pelas gerações passadas.


DESABAFO

Na fila do supermercado, o caixa diz para uma senhora idosa:
- A senhora deveria trazer suas próprias sacolas para as compras, uma vez que sacos de plástico não são amigáveis ao meio ambiente.
A senhora pediu desculpas e disse:
- Não havia essa onda verde no meu tempo.
 O empregado respondeu:
- Esse é exatamente o nosso problema hoje, minha senhora. Sua geração não se preocupou o suficiente com nosso meio ambiente.
- Você está certo - responde a velha senhora - nossa geração não se preocupou adequadamente com o meio ambiente. Naquela época, as garrafas de leite, garrafas de refrigerante e cerveja eram devolvidos à loja. A loja mandava de volta para a fábrica, onde eram lavadas e esterilizadas e eles, os fabricantes de bebidas, usavam as garrafas, umas tantas outras vezes.



Realmente não nos preocupamos com o meio ambiente no nosso tempo. Subíamos as escadas, porque não havia escadas rolantes nas lojas e nos escritórios. Caminhamos até o comércio, ao invés de usar o nosso carro de 300 cavalos de potência a cada vez que precisamos ir a dois quarteirões. Mas você está certo. Nós não nos preocupávamos com o meio ambiente.



Até então, as fraldas de bebês eram lavadas, porque não havia fraldas descartáveis. Roupas secas: a secagem era feita por nós mesmos, não nestas máquinas bamboleantes de 220 volts. A energia solar e eólica é que realmente secava nossas roupas. Os meninos pequenos usavam as roupas que tinham sido de seus irmãos mais velhos, e não roupas sempre novas.



Mas é verdade: não havia preocupação com o meio ambiente, naqueles dias. Naquela época só tínhamos somente uma TV ou rádio em casa, e não uma TV em cada quarto. E a TV tinha uma tela do tamanho de um lenço, não um telão do tamanho de um estádio; que depois será descartado como?
Na cozinha, tínhamos que bater tudo com as mãos porque não havia máquinas elétricas, que fazem tudo por nós. Quando embalávamos algo um pouco frágil para o correio, usávamos jornal amassado para protegê-lo,
não plástico bolha que dura cinco séculos para começar a degradar. Naqueles tempos não se usava um motor a gasolina apenas para cortar a grama, era utilizado um cortador de grama que exigia músculos. O exercício era extraordinário, e não precisava ir a uma academia e usar esteiras que também funcionam a eletricidade. Mas você tem razão: não havia naquela época preocupação com o meio ambiente. Bebíamos diretamente da fonte, quando estávamos com sede, em vez de usar copos plásticos e garrafas pet que agora lotam os oceanos.



Canetas: recarregávamos com tinta umas tantas vezes ao invés de comprar uma outra. Abandonamos as navalhas, ao invés de jogar fora todos os aparelhos 'descartáveis' e poluentes só porque a lâmina ficou sem corte.



Na verdade, tivemos uma onda verde naquela época. Naqueles dias, as pessoas tomavam o bonde ou ônibus e os meninos iam em suas bicicletas ou a pé para a escola, ao invés de usar a mãe como um serviço de táxi 24 horas. Tínhamos só uma tomada em cada quarto, e não um quadro de tomadas em cada parede para alimentar uma dúzia de aparelhos. E nós não precisávamos de um GPS para receber sinais de satélites a milhas de distância no espaço, só para encontrar a pizzaria próxima. Então não é risível que a atual geração fale tanto em meio ambiente, mas não quer abrir mão de nada e não pensa em viver um pouco como na minha época?



Lendo este texto, pensei na hora nos meus avós, em todas as histórias que me contavam e em todos os exemplos que me deram.

Meu avô, construiu sua casa na praia, com as caixas de madeira onde eram transportados os fuscas importados - em breve postarei as fotos, de sua moradia ecológica, num tempo em que ninguém tocava nesse assunto. Seu pai, reaproveitava latas de leite, para inúmeros fins e distribuia para vizinhos e amigos. Minha tia conta que nunca se comia carne todo dia e quando uma galinha era abatida, a comida estava garantida para toda a família por bem mais de uma semana. Da mesma forma, tudo que era plantado e colhido era dividido com as pessoas do entorno. E eles não chamavam isso de economia justa e solidária. Eram apenas pessoas unidas, amigas, vivendo em comum acordo. Hoje mal sabemos quem são nossos vizinhos.

Meu pai sempre trouxe folhas impressas apenas de um lado, do escritório de onde trabalha para que usássemos para pintar, fazer resumos, ou qualquer outra coisa do tipo. E continua a fazer isso com os netos. Minha filha nunca usa uma folha de sulfite em branco para desenhar, apenas essas folhas de rascunho.

Minha mãe sempre fez doações de roupas e brinquedos, para quem não tinha nem o suficiente. E da mesma forma, sempre usamos roupas de segunda mão, sem absolutamente nenhum problema. Aliás comprar roupas, era uma tarefa anual, não semanal, como costuma ser hoje em dia. E sempre porque precisávamos, ou porque as roupas estavam pequenas ou surradas de mais. Brinquedos apenas em aniversário e natal. Uma televisão para toda a família era o máximo da tecnologia.

Refrigerante era só para datas especiais. Ninguém se enchia de coca-cola dia e noite. Aliás, suco naquela época era com fruta, natural...eles não vinham com conservantes embalados por tetra pak. A água que bebíamos era filtrada no filtro de barro, aliás o meu foi presente da minha vó e está em casa há 10 anos. Nunca tive infecção intestinal na vida.

Luz acesa, desnecessariamente, não era problema ambiental, era jogar dinheiro no lixo...porque afinal de contas ninguém era sócio da Light...

Passei a infância inteirinha ouvindo, que não poderíamos deixar nem um grão de arroz no prato. Num mundo onde milhares de pessoas morrem de fome, isso era um pecado grave na minha casa.

Nunca tinha visto uma secadora de roupas, que eu considero um absurdo, posto que moramos nesse abençoado país tropical. Com esse verão, qualquer roupa leva no máximo 2 horas para secar...E jamais usava o elevador para subir os 4 lances de escada que separavam a casa da minha mãe da minha vó.

E apesar do meu avô ter carro e contribuir com a geração de CO2, o que eu mais vi ele fazer na vida, foi dar carona. E naquela época não haviam campanhas sobre isso. Além disso, ele já havia passado mais da metade de sua vida usando os bondes como meio de transporte.

Meus avós sempre foram exemplos para mim. De dignidade, perseverança, generosidade e até sustentabilidade. Talvez tanto bom senso, seja o resultado de uma vida sem luxo e com muitos apertos durante boa parte. Quem passou fome não deveria jogar um prato de comida no lixo, simplesmente porque ficou rico.

E cada atitude como essa, nunca foi rotulada pela minha família como verde, ecologicamnete correta ou sustentável. Apenas se vivia com o que é realmente necessário. Sem desperdício.

Muita gente me acha muito extremista porque passeios com filhos para mim, não incluem shoppings centers ou macdonald´s. Recentemente minha filha escreveu uma carta para o papai noel, na escola. A professora veio toda animada, falando da carta especial, onde ela dispensava presentes e brinquedos, alegando já ter o suficiente, queria apenas que ele fizesse com que ela e sua melhor amiga, estudassem na mesma classe ano que vem...

Acho que eu não estou tão errada...e certo radicalismo contra esse capitalismo selvagem, certamente estão contribuindo para formar um ser-humano melhor.

Enfim, não sei de quem é o texto e espero poder descobrir para dar o devido crédito ao autor.


4 comentários:

Bárbara Daisy disse...

Puxa Mariana eu não tenho palavras para descrever o quanto gostei do seu blog.

E esse texto então! Nossa, realmente é algo reflexivo. Minha vida tb foi das mais simples possíveis, roupa um avez ao ano e olhe lá se no ano seguinte ainda tivesse necessidade de comprar roupas novamente.

Ainda hoje sou assim. Customizo, reaproveito, reutilizo. Tenho meu lado consumista, mas minha consciência ambiental me ajuda muito nas minhas escolhas.

:*

p.s.: Vi que vc tem citronela, sabe como faço para encontrar semente, ou mudas dela? Já procurei onde moro e nada...o.o

Mariana MT disse...

Que delícia, entrar no blog e dar de cara com um comentário como o seu.
Tb tenho meus pecados. Ainda não consegui me livrar dos produtos industrializados como gostaria, mas minha consciência ecológica e meu respeito aos animais, costumam me deixar focada.

Essa mudinha de citronela eu ganhei de um vizinho. Se vc for da minha região, posso te arranjar uma mudinha e te levo pessoalmente...e se vc plantar diretamente na terra, logo vai poder distribuir tb.

Ahhh e seja muito bem-vinda!!!

Mariana MT disse...

Acabei de ver que vc é da Bahia...adoraria entregar a mudinha de citronela pessoalmente...mas não vai dar...rs

Uma planta tão simples e eu tb penei para achar. Nenhuma jardinagem daqui vendia, tb não achei em nenhuma feira. Se a sua cidade tiver algum viveiro de mudas, organizado pela secretaria do meio ambiente ou orgão semlehante, talvez vc possa encontrar.

Boa sorte!

Bárbara Daisy disse...

HUhum, eu vou ligar para o Horto Florestal, mas procurei e encontrei no mercado livre, baratinho e um vendedor com boa reputação.

Mas obrigada, seria um prazer conhecê-la.

Você tem outro blog, né?

Da primeira vez que te visitei, fui em outro blog e encontrei esse (eu acho, não lembro bem).

Abraços ^^
e continue fazendo esse trabalho que faz aqui. É admirável!

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